Audiência pública: Elzinha debate desafios e políticas públicas para pessoas autistas

Atendendo ao requerimento da vereadora Elzinha Mendonça (PP), a Câmara Municipal de Rio Branco realizou nesta segunda-feira, 23, uma audiência pública para debater os desafios e políticas públicas voltadas às pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). O encontro reuniu representantes da saúde, assistência social, educação, associações civis e coletivos autistas.
“Nós precisamos falar de autismo como pauta de Estado, não só como pauta de nicho ou de campanha. A luta das famílias é diária, solitária, e o poder público precisa estar à altura dessa causa”, destacou Elzinha na abertura dos trabalhos.
A diretora da atenção especializada da SEMSA destacou que o número de crianças atendidas pelo Centro de Atendimento ao Autismo cresceu de 28 para quase 300 nos últimos anos, resultando em cerca de 1.800 atendimentos mensais.
Ela também anunciou a futura construção de um centro próprio para ampliar o serviço, hoje ofertado em prédio alugado. Apesar dos avanços, a gestora reconheceu o desafio de escassez de profissionais na rede pública e disse que a gestão trabalha com a possibilidade de terceirização de atendimentos, autorizada por nova portaria do Ministério da Saúde.
Jota Conceição, da Secretaria Municipal de Assistência Social, defendeu a ampliação da política de direitos humanos como base para garantir o respeito e a dignidade das pessoas autistas. “O Brasil tem leis avançadas, mas tirá-las do papel exige vontade política. Precisamos de equidade, não apenas igualdade”, pontuou.
Em nome da Associação dos Amigos e Pais dos Autistas do Acre (ANPAC), Suzy Raquel emocionou o plenário ao relatar o sofrimento das famílias diante do diagnóstico tardio e da negligência institucional. Ela agradeceu a vereadora Elzinha pela destinação de emenda que possibilitou a reestruturação da ANPAC, agora pronta para ofertar atendimentos, oficinas e acolhimento. “Tempo, no autismo, é vida. E muitas mães peregrinam por anos ouvindo que estão exagerando”, alertou.
Já o ativista Roberto Craveiro, um dos pioneiros da luta por direitos das pessoas autistas no Acre, fez críticas duras à estrutura atual. Ele citou que o estado tem proporcionalmente o maior número de pessoas com TEA do país – cerca de 13 mil – mas o atendimento é feito por apenas dois centros, um municipal e um estadual. “É um absurdo termos um espaço que comporta 80 crianças, atende 56, e deixa mais de 700 na fila de espera”, denunciou.
Na fala que mais provocou reflexão sobre os silêncios da política pública, Kamala Menezes, professora e autista adulta, representando um coletivo com 90 pessoas diagnosticadas tardiamente, cobrou atenção à vida adulta dos autistas. “Existe um foco muito grande na infância, mas nós também existimos. Queremos viver, trabalhar, ser respeitados. E ninguém fala sobre isso”, afirmou. Ela pediu a criação de campanhas de sensibilização e grupos de estudo para pensar adaptações reais no serviço público.
Também participaram da audiência o educador Joaquim Oliveira, que propôs reativar programas de formação continuada para a comunidade escolar sobre educação inclusiva, e outros representantes de instituições e movimentos sociais que reforçaram a importância do atendimento multidisciplinar, com alinhamento entre saúde, educação e assistência social.
A vereadora Elzinha encerrou a audiência agradecendo a presença dos parlamentares, representantes de entidades e familiares, e reafirmou seu compromisso com a causa. “O poder público precisa deixar de terceirizar essa responsabilidade. O autismo não pode esperar”, concluiu.
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